sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Cobertura do Goiaba Rock

Música independente na Terra da Goiaba

Por Victor Maciel | Goma | Uberlândia (MG)

Inhumas, interior de Goiás, fica a cinquenta quilômetros da capital Goiânia e sem dúvidas seria um lugar pouco convencional para o surgimento de um festival de música independente do porte do Goiaba Rock. Seria.

O mapa que tem se configurado como rota para a nova música brasileira passa por pontos inimagináveis até pouco tempo atrás. Este processo de descentralização tem voltado atenções para cidades como Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Goiânia (GO), Porto Velho (RO), Macapá (AP), entre outras capitais fora do principal eixo econômico do país, além de cidades de interior como São Carlos (SP), Londrina (PR) e Uberlândia (MG).

Em Goiás, este fenômeno não é diferente. Além da capital, já com uma cena forte com suas bandas e festivais, cidades como Anápolis, Piracanjuba, Pirenópolis e Inhumas, por exemplo, tem unido forças de modo a constituir, juntamente com Brasília (DF), o Fora do Eixo Goiás.

Fora do Eixo Goiás dá importantes passos no festival

Por Victor Maciel | Goma | Uberlândia (MG)

Criado em maio deste ano após encontros de produtores e agentes culturais do estado com Talles Lopes, do Goma (MG) e Pablo Capilé, do Espaço Cubo (MT), durante o Festival Bananada, o Fora do Eixo Goiás teve sua etapa inicial, a de formação de suas bases, encerrada no Goiaba Rock.

Reunidos em Inhumas, representantes de cerca de cinco cidades do estado definiram as novas metas da regional para 2010, quando se vislumbra uma expansão para nove ou dez cidades com seus coletivos organizados. Para Tião Donato, idealizador do Goiaba Rock, é tudo uma questão de planejamento para que a regional se fortaleça ainda mais. "Nosso festival foi a primeira iniciativa no interior do estado. No entanto, o crescimento do Fora do Eixo Goiás é uma responsabilidade de todos os agentes dispostos a movimentar o cenário goiano", analisa Donato.

A semana contou ainda com oficinas de formação tecnológica durante o Goiaba Digital, além da plantação de árvores às margens do Rio Meia Ponte, que abastece Inhumas, como parte do Goiaba Verde e até com concertos sacras em uma igreja, o que comoveu e chamou muito a atenção da cidade para o festival, que extrapola as fronteiras do rock e da própria música.


Surpresas no primeiro dia de shows

Por Hick Duarte | Goma | Uberlândia (MG)

O cast do Goiaba Rock, que contava com muitas bandas desconhecidas no cenário independente nacional, acabou rendendo algumas boas surpresas aos que prestigiaram o festival. Mais de 30 bandas estavam escaladas para se apresentar durante os dias 5 e 6 de novembro.

Os shows aconteceram em dois lugares distintos: à tarde, a Praça do Estudante abrigou o Palco Abrafin/Fora do Eixo; à noite, o rock rolou no Palco Nova Música/Novo Mundo, dentro do Ginásio de Esportes Firmo Luiz. A entrada era gratuita.

A banda Brown-Há foi um dos principais destaques do primeiro dia do festival. O enérgico e divertido indie rock dos brasilienses envolveu toda a Praça do Estudante num clima de muita festa e sinergia. Não foi à toa que o verso “Eu quero viver de rock ‘n’ roll” continuou sendo entoado por muitos até o final da noite.

Apesar da participação cada vez mais frequente em festivais, sobretudo nos filiados à Abrafin, o show de Gilbertos Come Bacon (DF) foi uma verdadeira surpresa aos goianos de Inhumas. A banda, como de costume, subiu ao palco disposta a tocar “um axé”, “um pagode”, “um emocore” e dispararam o seu hardcore direto, embalado a uma percussão enérgica e insana. O público aprovou e reagiu desencadeando um mosh atrás do outro.

Entre as diversas bandas locais que se apresentaram, o Hot and Hard Co. parece ter concentrado as atenções. O grupo de metal melódico foi a sensação conterrânea para os “camisas-pretas”, promovendo uma apresentação com direito ao clássico solo de bateria.

As goianas Zillios, Cine Capri e Versus AD também impressionaram.

O ponto de partida para um novo paradigma

Por Victor Maciel | Goma | Uberlândia (MG)

No início, o ano era 2003, muitos não dariam crédito a uma ideia desta – levar para o interior do estado de Goiás um modelo de festival similar aos já consagrados, na capital, Goiânia Noise, Bananada e Vaca Amarela.

Dois anos mais tarde, enquanto produtores de diversas regiões do país esboçavam aquilo que viria a ser o Circuito Fora do Eixo, estimulado por esta tendência de descentralização das rotas da música independente, Tião Donato amarrava parcerias com Monstro Discos e Fósforo Cultural, que realizam os principais festivais do estado em Goiânia, para finalmente organizar, em sua cidade natal, Inhumas, o primeiro festival de música independente do interior goiano, o Goiaba Rock.

Quatro anos depois, já na quinta edição do festival, nota-se uma cena local mais movimentada. “Inhumas tinha duas bandas praticamente inativas. Hoje, a cidade tem mais bandas que, inclusive, já começam a circular”, compara Donato.

Circulação possibilitada pela rede de contatos feita dentro do estado e que hoje configura o Fora do Eixo Goiás. Se o ditado diz que “o bom filho sempre à casa torna”, no caso de Inhumas, o filho voltou e deu o primeiro passo rumo a um processo de descentralização da cadeia produtiva da música independente no estado. Ideias pretensiosas, fora de eixo? Talvez. Sem lógica? Bem capaz que não.

A arte livre dá seu grito no interior goiano

Por Victor Maciel | Goma | Uberlândia (MG)

Assim como no sábado, a programação de shows do domingo trouxe mais surpresas vindas de Brasília, a exemplo de Brown-Há e Gilbertos Come Bacon, destaques do dia anterior. Cassino Supernova apresentou seu rock, claramente influenciado pelos precursores do gênero, com competência. Bem à vontade no palco, a banda não aparentava ser tão nova no cenário candango.

Mais nova revelação da cena cuiabana, Vitrolas Polifônicas, começa a chamar atenção no Circuito. Contemplada por dois festivais no Edital de Circulação do Fora do Eixo – Goiaba Rock e Varadouro (AC) -, a banda foge do óbvio ao misturar samba, blues e rock ‘n’ roll. E conseguem fazer isso com propriedade. Instrumentalidade convidativa a, no mínimo, uma batida de pés, letras sagazes e vocal feminino cativante.

Conjunto Roque Moreira (PI) foi um grande achado do festival. Roque – "com Q-U-E", enfatizado pelos integrantes durante o show – genuinamente nordestino e brasileiro que sai dos ritmos regionais, pega carona no reggae e chega a riffs pesados do rock sem se perder no caminho.

Nuda (PE), por sua vez, é um dos nomes mais promissores da cena independente nacional. Outra banda contemplada pelo Edital de Circulação do Fora do Eixo, ainda passarão pelos festivais Jambolada (MG) e DoSol (RN) deste ano. No Goiaba Rock, novas músicas que não constam no belo EP “Menos Cor, Mais Quem” ocuparam a maior parte do set list.

Encerrou a noite, O Teatro Mágico (SP), principal atração do festival, estreando em festivais do Circuito Fora do Eixo. Sem dúvidas, uma banda que promete muito diálogo com a rede. Após conseguirem grande projeção sem abrir mão da independência e da liberdade de acesso aos seus trabalhos, são um dos principais envolvidos com o movimento Música Para Baixar (MPB), que propõe uma reconfiguração das bases produtivas da cultura no país e a revisão das leis que regem o direito autoral diante das novas tecnologias.

No palco, O Teatro Mágico mantém o discurso contra a indústria cultural tanto nos intervalos das canções, quanto na própria estética do projeto que envolve, além da música, o teatro e as artes circenses. Com um show muito conceitual, com críticas declaradas às práticas do jabá e às próprias relações de trabalho dentro do sistema capitalista, a trupe encerrou o festival da melhor maneira possível. Arte independente e novos paradigmas econômicos e sociais defendidos a plenos pulmões em pleno interior goiano. Algo de novo acontece na cadeia produtiva da cultura no país e esta novidade, crendo ou não, já faz barulho em lugares pouco imagináveis até não muito tempo atrás.

Mais fotos do Goiaba Rock você encontrará no flickr do Goiaba:http://www.flickr.com/photos/goiabarock/ e também no flickr de alguns parceiros: http://www.flickr.com/photos/gomacultura/sets/

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